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O jogo de papéis sociais

 

         

 

          Segundo Elkonin (2009), o surgimento do jogo de papéis é de origem e natureza social: manifesta-se a partir da divisão social do trabalho, na qual a criança, em um determinado momento de desenvolvimento histórico da sociedade, fica impossibilitada de participar diretamente da atividade produtiva.

          A hipótese é a de que, à medida que o trabalho e suas relações se complexificaram em relação ao uso de ferramentas, ocorreu o impedimento da participação direta da criança, mudando também sua situação frente à sociedade. Assim, para continuar a participar das relações identitárias com os adultos, a criança lança-se ao jogo de papéis.

[...] no jogo protagonizado influi, sobretudo, a esfera da atividade humana, do trabalho e das relações entre as pessoas e que, por conseguinte, o conteúdo fundamental do papel assumido pela criança é, precisamente, a reconstituição desse aspecto da realidade (idem, p. 31).

          O motivo da criança é agir como o adulto, e o jogo une os aspectos afetivos e operacionais da atividade. Salienta Leontiev (2016) que “não basta para a criança contemplar um carro em movimento ou mesmo sentar-se nele; ela precisa agir, ela precisa guiá-lo, comandá-lo” (idem, p. 121). Frente ao paradoxo de sua necessidade de agir e a incapacidade de operar com as ações exigidas por um veículo real, resolve esse contrassenso e satisfaz sua necessidade por meio da brincadeira, ou seja, do jogo de papéis.

       No jogo, o desenvolvimento do papel social é um sinalizador da compreensão da criança em relação à atividade humana, daí sua importância enquanto unidade fundamental no jogo protagonizado, que se configura como a reconstituição dos papéis sociais, principalmente do mundo adulto. “[...] No jogo das crianças em idade pré-escolar o principal é o papel que assumem. No processo de interpretação [...] a criança transforma suas ações e atitude diante da realidade” (ELKONIN, 2009, p. 02).

           O papel é o conteúdo do jogo, um indicador da compreensão da criança em relação à atividade humana e ao processo de simbolização, e possui íntima relação com a ação educativa, pois a criança aprende sobre o uso dos objetos e das relações sociais.

         Vigotski, citado por Elkonin (2009), pontua que por meio do jogo a criança frequenta a escola de seu futuro desenvolvimento, entendendo a brincadeira do pré-escolar como preponderante ao desenvolvimento, ou seja, a atividade que cria uma zona de desenvolvimento próximo, na qual impulsiona a criança para futuras conquistas psíquicas. Segundo o autor, a atividade do jogo de papéis “é o protótipo da futura atividade séria”, referindo-se a atividade de estudo.

         Por meio do jogo a criança desenvolve os processos psíquicos do pensamento, linguagem, imaginação, domínio voluntário da conduta, entre outras formas evoluídas de comportamento, que tornam o jogo mais elaborado. No entanto, exige intervenção:

[...] é necessário que essa atividade ganhe complexidade em termos de estrutura e conteúdo ao longo dos anos pré-escolares. Para tanto cabe aos professores a organização da brincadeira infantil e o enriquecimento do seu conteúdo [...] (PASQUALINI, 2016, p. 134).

        Os autores da psicologia histórico cultural afirmam que o jogo de papéis é a atividade lúdica mais evoluída. Contudo, para que atinja suas máximas possibilidades, carece da mediação de parceiros mais experientes dirigindo a atenção da criança a aspectos que não estão suficientemente claros para elas. É o conhecimento adquirido que muda a relação da criança com o jogo.

ELKONIN, D. Psicologia do jogo. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

 

LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKII, L. S., LURIA, A. R. & LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 14. ed. São Paulo: Ícone, 2016.

 

PASQUALINI, C. J. Fundamentos teóricos. Proposta pedagógica da educação infantil do Sistema Municipal de Ensino de Bauru/SP: Secretaria Municipal de Educação, 2016. p. 39-145. In: PASQUALINI, C. J. ; TSUHAKO, N. Y. (Org.). Proposta pedagógica da educação infantil do Sistema Municipal de Ensino de Bauru/SP: Secretaria Municipal de Educação. 2016. Disponível em: <http://www.bauru.sp.gov.br/arquivos2/arquivos_site/sec_educacao/proposta_pedagogica_educacao_infantil.pdf>. Acesso em: 27 set. 2017.

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